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Como aprender sobre política pela arte?

Atualizado: 16 de fev. de 2024

Manifestações artísticas apresentam perspectivas culturais que geram sistemas de representação da realidade, estando atentos, temos muito o que aprender com elas.

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Como aprender sobre política pela arte?


O papel da arte


Podemos entender a arte como a expressão da subjetividade humana, via manifestação estética ou comunicativa, pelas diversas linguagens disponíveis: escrita, som, desenhos, fotografias, vídeos, entre outros.


Teoricamente, sua função é explicada por duas vertentes distintas: a de que ela não deveria ter uma utilidade predefinida, tendo existência autônoma; e outra indicando que a arte existe a partir de sua função social, histórica, educativa ou psicológica capazes de lhe conferir sentido.


Independentemente dessas vertentes teóricas, é consenso de que, na prática, a arte pode despertar sentimentos, emoções e reflexões fundamentais para sua existência.


Ao apreciar manifestações artísticas podemos conhecer outras representações da realidade, ampliar nossa compreensão do mundo, estimular nossa sensibilidade e empatia, desenvolver o senso crítico e aumentar repertório de conhecimento.


Ao produzir arte estimulamos o desenvolvimento da cognição, da criatividade, encontrando novas formas de expressão e pertencimento, ampliando as possibilidades de existir no mundo.

“A arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo. Mas a arte também é necessária em virtude da magia que lhe é inerente.” Ernst Fischer, A Necessidade da Arte.

Para além da arte elitista e elitizada, chancelada por estar em uma galeria especializada, falamos aqui das mais diversas possibilidades de manifestações artísticas. Desde a novela das nove ao grafite no centro da cidade, toda manifestação é válida e carrega em si uma visão de mundo artística e cultural capaz de nos fazer pensar.


Arte como um resgate


Numa realidade difícil, desigual, com pouco acesso a oportunidades, educação e condições mínimas de sobrevivência, grande parte da população precisa resistir. Num processo involuntário de brutalização, necessário para suportar a realidade, acaba também abandonando sua sensibilidade e fragilidade.


Mas aí, a arte é novamente bem-vinda como um respiro em meio a essa escuridão, proporcionando um alívio na dor e um suporte para processar e conviver melhor com a realidade.

"A arte existe porque a vida não basta", Ferreira Gullar

Seja ouvindo uma música no rádio, assistindo a uma peça de teatro ou lendo uma crônica no jornal, qualquer contato com alguma produção artística pode nos deslocar no tempo e no espaço, nos fazendo desligar da realidade e questões particulares.


E nesse espaço de tempo, que chamamos de entretenimento, mesmo que inconscientemente, estamos sendo provocados a imaginar, a sentir e a elaborar o que está sendo representado. Tudo a partir da nossa própria visão de mundo, referências, contexto, crenças e valores.


Num processo subjetivo e potente, que nos permite aliviar a tensão e descansar, dando um tempo da realidade, mas também nos abastecendo de esperança e possibilitando sonhar com diferentes realidades.


A arte também nos traz vocabulário e conhecimentos, que auxiliam na elaboração de dor e traumas, podendo conscientizar para realidades até então incompreendidas ou invisibilizadas. A critério de exemplo, recentemente vimos esse movimento de forma massiva com a personagem Maria Bruaca na regravação da novela Pantanal, da TV Globo.


A personagem, vivia uma relação abusiva, sofrendo violência física e psicológica. E passa por uma redenção ao conseguir resgatar sua autoestima e independência para sair desse contexto. A grande repercussão da dramaturgia trouxe para o debate público questões como autonomia feminina, responsabilidade afetiva, bem-estar emocional, violência física e psicológica nas relações.


E através da representatividade desse caso, muitas mulheres relataram conseguir compreender a relação abusiva que viviam em suas próprias casas, sentindo-se encorajadas a sair dessa situação.



A política na arte


Manifestações artísticas apresentam perspectivas culturais que geram sistemas de representação da realidade. Por isso, é possível afirmar que qualquer manifestação artística é também política, uma vez que constrói essa representação a partir da visão de mundo do seu criador.


Seja um filme, um livro, uma música ou qualquer outra obra: constam ali um recorte feito a partir dos interesses e intenções do artista que o criou. E em contato com o público, o sentido dessa obra passa a ser construído, com base na visão de mundo do espectador, que articula as suas intenções e interesses com a do artista.


Detalhes de como contextos, ambientes, personagens e relações são retratados numa obra revelam a prática política acontecendo. Através, de como as relações de poder e articulações de interesse se estabelecem e/ou são representadas.


Portanto, assim como na realidade, a política sempre se faz presente nas manifestações artísticas — mesmo que não tratem diretamente do tema. Dizem que a vida imita a arte, mas a verdade é que a muito tempo a arte representa as mais diferentes formas de vida, para expandir nosso olhar para além do nosso entorno.


Nos fazendo compreender outras realidades e formas de vida, nos permitindo conhecer e reconhecer o diferente, sonhar com novos futuros, além de descansar e relaxar apesar das durezas da vida.


Arte para furar bolhas e expandir a visão de mundo


Considerando a complexidade e diversidade de uma produção artística, podemos pensá-la como recurso para estabelecer conexões com grupos que pensam e agem diferente.


Com criatividade, diferentes recursos de linguagem e formas de aproximação, conseguimos furar bolhas, sensibilizar e apresentar diferentes formas de pensar, existir e resistir no mundo.


Não é simples nem utópico, é o poder da arte. Pense em quantas vezes não conseguimos compreender e até se compadecer com o vilão de uma narrativa, simplesmente porque conhecemos a sua versão da história?


Compreendendo que toda história tem diversas perspectivas e que escolhas — certas ou erradas — são frutos de um contexto, das oportunidades e capacidade de cada um e não apenas uma questão de bem ou mal, passamos a refletir sobre o contexto ao invés de só culpar e penalizar.


Desenvolvendo a habilidade de olhar para a complexidade do ser humano e transpondo isso para a nossa realidade, estimulando a empatia, compaixão e expandindo nosso olhar para a além das atitudes individuais.


Afinal, como aprender política pela arte?


Observando e aprendendo sobre as diferentes formas de existir no mundo, diversas relações de poder entre pessoas, classes, lugares e contextos.


Se abrindo para novas perspectivas, se afastando de visões binárias de certo e errado, bem e mal e se abrindo para a complexidade do mundo e do ser humano.


Compreendendo o funcionamento e organização da sociedade, do uso e exercício do poder, tanto na esfera pública quanto privada.


Conhecendo as regras muitas vezes implícitas que regem a sociedade e nos fazem crer e perpetuar desigualdades e discriminações, reproduzir conceitos estereotipados e normalizar absurdos.


Olhando para como o indivíduo forma suas ideias, define seu valor e constrói sua visão de mundo, considerando questões específicas como cor, gênero e posição social.


Permitindo-se sentir empatia, compaixão, respeito por aquilo ou aquele que difere, que rompe com padrões, regras ou expectativas. Expandindo o olhar para além da sua culpabilização para compreender quais eram suas alternativas e contexto.


Enfim, compreendendo que somos seres políticos e isso também está representado nas manifestações artísticas, em como as produzimos e/ou consumimos.


Já pensou sobre isso?

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