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Precisamos (re) aprender a dialogar

Atualizado: 8 de fev.

No contexto polarizado que enfrentamos é urgente reaprendemos a dialogar para conseguirmos conversar sobre política.

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Precisamos (re) aprender a dialogar.


Basta falar a palavra política numa roda de conversa para ver o desconforto crescer. Antigamente, alguns tentariam mudar o assunto, outros torceriam o nariz e optariam pelo silêncio.


Na última década, vimos crescer esse afastamento, transformando-o em rejeição. Política passou a ser assunto proibido entre grupos, a fim de evitar conflitos, que, não raro, acabavam com o rompimento de relações ou evoluíam para violência — verbal ou física.


Sabendo do impacto e importância desse tema no dia a dia de todos, entendemos esse distanciamento como um obstáculo para o exercício pleno da cidadania, enfraquecendo a democracia e fortalecendo poderes unilaterais.


Polarização e suas consequências


Polarização, teoricamente, significa dois polos opostos em relação ao mesmo tema, algo natural no convívio humano. Alguns gostam de azul, outros de amarelo, uns torcem pro time A, outros pro time B, etc. Mas, mesmo em posições opostas, é possível dialogar e conviver civilizadamente.


Contudo, no meio político esse termo passou a representar uma situação mais dramática, tornando-se sinônimo de grupos fechados em suas convicções, que recusam o diálogo com grupos de opiniões diferentes.


Criando um fenômeno não só de discordância, mas de desconexão. Deixando impactos profundos em nossa sociedade, com o julgamento ético e moral de um indivíduo a partir de sua posição política, violência, intolerância, desrespeito, e por aí vai.


Desconsiderando que cada pessoa é livre para acreditar e interagir no mundo como quiser — desde que seja de forma democrática — e não deve ser pré-julgada por isso. Mas num contexto gravemente polarizado, apenas ouvir o que o outro tem a dizer representa um risco e então é preferível não ouvir.


Assim, constroem-se paredes e entrincheirados em convicções, grupos se desconectam e passam a se ver como inimigos.


A pesquisa Edelman Trust Barometer — que mede anualmente a confiança das pessoas nas instituições — traz dados alarmantes sobre essas consequências. Aplicada em 32 países, o relatório de abril de 2023 traz informações globais e por países participantes e aqui, destacamos a situação no Brasil.


Segundo a pesquisa, a polarização tem afetado nossa civilidade e tolerância, uma vez que apenas 29% dos entrevistados sentem-se dispostos a ajudar alguém que pensa diferente, 22% a conviver no mesmo ambiente de trabalho de quem tem um ponto de vista diferente e só 21% a morar na mesma vizinhança de pessoas com opiniões diferentes da sua.


O que também parece estar diretamente refletido nos índices sobre a sensação de coletividade: 53% dizem sentir o país mais dividido do que no passado, 80% afirmam sentir que a falta de civilidade e respeito mútuo atual é a pior que já viu e 63% dos respondentes concordam que o “tecido social que antes mantinha o país unido tornou-se fraco demais para ser uma base de união e propósito comum”.


Ingredientes ideais para manter a população dividida e desconfiada entre si. Com comportamentos igualmente divisórios, vendo o diferente como um adversário, uma ameaça ao seu bem-estar, diretos e segurança.


Impactando diretamente a confiança entre os indivíduos, conforme mostra a pesquisa: apenas 46% dos entrevistados acham os cidadãos brasileiros confiáveis, 51% acham seus vizinhos confiáveis e 52% acham os cidadãos da sua comunidade local confiáveis.


Desconfiança que não paira apenas entre os cidadãos, o estudo mostrou que a gestão pública também está em descrédito: apenas 51% dos entrevistados acham o governo confiável, enquanto 59% consideram ONGs confiáveis e 61% acham as empresas confiáveis.


Esse baixo nível de confiança nas instituições e nas outras pessoas, afeta o senso de identificação e pertencimento de uma sociedade, gerando pessimismo quanto a situação econômica, injustiças sistêmicas e insegurança.


Criando, também, um ambiente que não permite diálogo a partir de outros pontos de vista, algo essencial para uma prática democrática de qualidade. Fazendo assim, crescer a intolerância, o preconceito e a violência.


Como chegamos nesse ponto?


Os fatores são diversos e complexos, mas de forma geral podemos considerar uma profunda insatisfação do povo por questões antigas ainda não resolvidas. O que faz os discursos políticos manterem a linha: vocês têm um problema e eu (político) tenho a solução.


Olhemos para a estrutura básica de um discurso político: uma narrativa emocional (para gerar aproximação e identificação), que pretende afetar o público (indicando o problema) e instigá-lo a apoiar aquela ideia (como única solução).


Entendemos que nesse processo é comum e legítimo a criação de histórias que põem em oposição uma realidade ruim e promessa de futuro melhor. Entretanto, temos um problema quando essa polarização se torna exagerada, maniqueísta e impondo barreiras ao consenso entre quem decide: o povo.


Segundo os professores e pesquisadores de ciência política, Jennifer McCoy e Murat Somer, muitas vezes, governantes, na tentativa de desfazer a polarização, apresentaram suas ideias em oposição a de seus adversários, usando a polarização como um instrumento de convencimento de eleitores e derrota da oposição.


Acabando assim, na verdade, apenas substituindo uma narrativa por outra, igualmente polarizada, no que McCoy e Somer chamam de “ciclo vicioso de estratégias de polarização e erosão democrática” que “dividem o eleitorado em grupos políticos opostos, com cada vez menos ligações entre si”.


Situação, que já pode estar sendo percebida pela população: voltando ao estudo Edelman Trust Barometer vemos que 57% dos entrevistados consideram autoridades governamentais como forças divisoras da sociedade.



Como mudar esse cenário


Ainda segundo McCoy, a estratégia ideal seria a realização do que ela chama de despolarização ativa. Ação que pretende agir no centro do problema, construindo uma narrativa completamente nova.


Para sua execução, inicialmente, é preciso levantar os diferentes interesses da população e identificar quais são comuns, destacando aquilo que os une. E aí, sim, criar um discurso com base em temas de interesse coletivo, capazes de conciliar a sociedade e restabelecer o diálogo.


Mas, aplicar essa solução no ambiente político não é tão simples como parece. Pois, ela exige mais dedicação e criatividade na construção de uma comunicação diferente, capaz de — sem a lógica do mocinho contra bandido — construir narrativas que sensibilizem e engajem o público, ao mesmo tempo, em que se distingue do adversário.


“Quando a divisão se entrincheira na sociedade, é muito difícil superá-la. É necessário então haver lideranças capazes de construir pontes, o que exige bastante coragem”, Jennifer McCoy.

Ao mesmo tempo, em que é preciso estar preparado para lidar democraticamente com os reveses que uma ação conciliadora traz. Sendo comum que o líder unificador desperte sentimentos de revanche por parte da oposição, tornando fundamental, seu esforço e comprometimento com o respeito ao adversário, como outro ator legítimo no processo democrático.


Começando pelo exemplo de praticar o diálogo com seus opositores, em uma escuta ativa e respeitosa, ponderando para as soluções atenderem sempre toda a população, independente de seu posicionamento político.


Solução viável, mas que exige uma mudança de mentalidade, possível de acontecer apenas com quem estiver disposto ou naqueles em que estiverem ainda em sua fase de formação, como os jovens.


Sobre eles, McCoy diz:

“Aqui nos Estados Unidos, os jovens são bem mais tolerantes em relação às diferenças ideológicas, religiosas ou raciais e estão muito preocupados com o meio ambiente e as mudanças climáticas, que ameaçam seu futuro. Eles estão muito ativos politicamente, fazem protestos, organizam movimentos, exigem mudanças. Espero que cheguem logo ao poder e o exerçam de forma menos divisiva e mais democrática”.

Nossa esperança também se volta para os jovens


Estudos sobre tendências, indicam que os jovens são como antenas para captar o espírito do tempo e com eles, podem nascer comportamentos capazes de influenciar o seu entorno. Um reforço positivo à nossa crença na reconexão da sociedade com a política, através da conscientização e educação das novas gerações.


Nós acreditamos no processo de despolarização ativa e confiamos na força dos jovens em estimular e influenciar essa transformação. Contribuindo assim para um futuro de mais respeito, colaboração e participação cidadã, na construção de um futuro mais justo e igualitário.


 

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